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“A cultura e a história dos saraus”

Aos nossos leitores da coluna o “Diário dos Imortais”, nesta semana eu gostaria de poder estar trazendo, algumas outras informações sobre “ Saraus” e de sua grandiosidade para a cultura e para a Alaa – Academia de Letras e Artes de Araguari. Pois os saraus, foram de grande importância para a formação de uma identidade cultural brasileira. E para tal, o convidado para nos proporcionar este momento de leitura e conhecimento, foi o nosso confrade da Academia de Letras e Artes de Araguari, o Professor Mauro Sérgio Santos da Silva, que é mestre em Filosofia e Doutor em Educação. Mauro Sérgio, irá resgatar a história dos “ Saraus”, e também falar de alguns realizados pelos acadêmicos da Alaa.

Os chamados “saraus” são eventos culturais que se consolidaram no Brasil a partir do século XIX. Com a vinda da Corte Portuguesa para o Brasil, em 1808, Dom João VI, trouxera consigo o costume imortalizado com pompa, classe, requinte e graça na França de Luiz XV. Todavia, encontramos já na Grécia e Roma antigas reuniões regadas a vinho com o intuito de fruir e produzir arte, música, literatura e filosofia. A esses encontros os antigos gregos e romanos denominavam “banquetes”. Na Idade Média, por seu turno, os saraus eram momentos nos quais cantores e trovadores se apresentavam acompanhados por alaúdes e outros instrumentos musicais.

Em terras brasileiras, os saraus foram responsáveis pela propagação, tanto da literatura romântica do século XIX quanto do ideário modernista cujo ápice é representado pela Semana de Arte Moderna de 1922. Inicialmente, eram realizados no Rio de janeiro, mas logo fazendeiros de São Paulo resolveram aderir à moda, e já na metade do século XIX estavam espalhados por todas as capitais.

Os saraus se caracterizam, em termos gerais, como eventos musicais ou literários que aconteciam em casas particulares de pessoas que se reuniam com o intuito de promover a integração social e cultural de um determinado grupo. Eles eram reuniões informais realizadas em casas particulares, onde amigos se juntavam para cantar, recitar poesias, contar histórias e declamar trechos de livros. Com o tempo, os saraus se popularizaram e passaram a ser realizados em espaços públicos, tais como como praças e teatros, convertendo-se em uma forma conspícua de promoção de arte e cultura.

O movimento dos saraus foi muito importante para a formação de uma identidade cultural brasileira. Eles foram responsáveis por difundir a poesia e a literatura entre a população, bem como por proporcionar um espaço para o surgimento de novos artistas e intelectuais.

Paulatinamente, os saraus foram se adaptando aos novos tempos e se tornaram mais diversificados, incorporando diferentes expressões artísticas, como dança, cinema e artes visuais. Eles continuam sendo realizados em todo o país, principalmente nas grandes cidades, e são uma forma de celebrar a cultura e a diversidade brasileira.

A origem da expressão sarau não é muito precisa. Há quem defenda ser a palavra sarau uma apropriação cultural da expressão “serão”.  Mas é igualmente possível que a palavra sarau derive do francês “soirée”, denotando algo como reunião noturna que, por sua vez, teria origem no latim serum (final da tarde, anoitecer).

Em Araguari, muitos dos saraus realizados desde a segunda metade do século XX, foram organizados ou contaram coma participação da Academia de Letras e Artes de Araguari – ALAA. Em todos estes anos, muitos foram os saraus ou eventos congêneres ensejados por seus membros para lançamentos de livros, homenagem a autores, realização da entrega de prêmios de seu prestigiado Concurso de Contos e Poesias, entre outros motes. Destacou-se, nesta empreitada, a ilustre Gessy Carísio que, à frente da Fundação Araguarina de Educação e Cultura e da própria Academia, capitaneou um famoso café literário realizado mensalmente na Biblioteca Municipal Professor Paulo Vieira. E, na esteira de Dona Gessy, Regina Duarte, Teresinha Reis e Edmar Cesar, que nos últimos anos dirigiram o sodalício de letras e de artes desta cidade, promovendo saraus e encontros dessa espécie.     Durante a pandemia do Covid-19 muitos eventos culturais tiveram que ser interrompidos da forma tradicional. Todavia, com a utilização das redes sociais e suas múltiplas formas de acesso e comunicação com o mundo, produtores culturais diversos se organizaram para produzir e levar cultura e arte através de ferramentas chamadas “lives”, reuniões virtuais, onde determinado grupo executa músicas, declama poesias ou trechos de livros, apresenta peças, canta (…) Com a Academia de Letras e Artes de Araguari, sob a gestão de Janice Lelis Gondim, não foi diferente. Janice, com enorme carisma, competência e generosidade, ao longo do período pandêmico não mediu esforços para manter ativa a ALLA, promovendo diversos eventos dessa natureza.

Neste ano, sob a coordenação do professor Joelson Silvano de Moura, presidente da ALAA, um conjunto de saraus literários têm ocorrido em diversos espaços da cidade, com o financiamento do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PMIC), mantendo uma belíssima tradição a partir de um espectro moderno, plural e democrático.

Os saraus – em seus díspares modelos e versões – produzem, promovem e divulgam as artes, as letras e a cultura em geral. Contribuem para o reconhecimento e valorização das obras já consolidadas de artistas e escritores, despertam aspirações, bem como desvelam talentos. Os saraus foram e continuam a ser fulcrais pontos de convergência cultural e confluência entre a tradição e o novo. A cultura é um direito humano fundamental. A arte é essencial! Potencializa, humaniza, desperta, liberta, transforma e, por isso, contribui para a promoção de uma sociedade mais reflexiva, sensível, crítica, consciente, fraterna, empática e solidária!

Texto:

Professor Mauro Sérgio Santos da Silva

Membro da Alaa – Academia de Letras e Artes de Araguari

Mestre em Filosofia e Doutor em Educação

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