Cultura

O BERIMBAL

Antônio Maria Cavalieri, o Mestre Toninho Cavalieri, nasceu na cidade de Juiz de Fora/MG, no dia 03 de março de 1938. De família pobre que viveu em um momento conturbado, Segunda Guerra Mundial e crise econômica no Brasil, sua infância foi marcada pela rua: as brincadeiras e confusões. Soma-se a isto a proximidade da oficina onde seu pai trabalhava com a „zona boêmia‟ (o baixo meretrício, a delegacia e os bares). 96 Por volta de 1948-1950, quando ele tinha seus 10- 12 anos de idade, indo para a aula de judô, três garotos o provocaram e como ele mesmo disse “eu gostava de uma briga, não procurava não, mas gostava…”11 , enfrentou os meninos; só que seu professor de judô, Fábio Maia, assistiu aquela cena e disse que iria ensinar-lhe a capoeira, já que também tinha conhecimento da modalidade. Após algum tempo de aprendizagem seu professor lhe disse que iria levá-lo para passar um final de semana no Rio de Janeiro para conhecer o Mestre Arthur Emídio, “… mas quando eu cheguei lá… treinei um bocadinho com o Arthur Emídio, mas não era o meu prato, eu gostava era da Capoeira da rua mesmo”. Então encontra com um amigo seu, o Paulo Lopes, que o leva para ver os malandros jogarem na praia, daí “… eles começaram a me ensinar e eu fui aprendendo, na beira da praia”. E estas idas ao Rio de Janeiro começaram a ficar frequentes e constantes. Por volta de 1969, logo após ter se casado, foi transferido para Belo Horizonte: “chegando aqui eu vi que não tinha capoeira aqui. […] Não tinha, pelo menos ninguém sabia disso”. Já instalado na capital, estava ganhando pouco e, para tentar melhorar o orçamento, resolveu ir à Associação Cristã de Moços (ACM) oferecer seus serviços como professor de capoeira. A pessoa com quem Cavalieri conversou lhe disse que colocaria um aviso no antigo jornal Diário da Tarde anunciando aulas de capoeira na ACM. Logo pela manhã, uma pessoa já estava na porta de sua casa para saber mais informações a respeito da capoeira: era o Luís Mário Ladeira, que mais tarde se tornaria o Mestre Jacaré – da velha guarda da capoeiragem mineira. Logo em seguida veio o Luís Alberto, o Paulo Batista, o Mestre Paulão (fundador do Grupo Ginga) e tantos outros: “… chegaram uns vinte lá em casa e montamos o primeiro grupo” […] Nós começamos a treinar, o grupo foi aumentando, aumentando e ficou bem grande, uns 50 alunos mais ou menos”.

Neste período, o grupo ia se divertir jogando capoeira na Praça da Liberdade. E, da mesma forma como acontece hoje, as pessoas que por ali circulavam paravam para assistir: “… começou a aparecer feira, barraquinha daqui, barraquinha dali e eles punham dinheiro lá no chão para a gente catar com a boca, dentro do chapéu, dentro do berimbau…”. Assim, de forma espontânea, surgiu um dos principais pontos turísticos de Belo Horizonte até os dias de hoje: a feira hippie (atual Feira de Artesanato da Avenida Afonso Pena). À medida que começaram a ter condições (técnicas, musicais, de jogo), cada um procurou caminhar „com as próprias pernas‟, ou seja, começam a ensinar próximos de suas residências, para suas comunidades. Tem-se aí o surgimento de vários agrupamentos e a consequente expansão da capoeira na capital mineira.

Mestre Toninho Cavalieri, um dos mais importantes Mestres da história da Capoeira em Belo Horizonte, morreu aos 82 anos, dia 28 de julho de 2020

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