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“QUAL O SEU NOME ?”

Sagrado é todo aquele espaço, objeto, símbolo, que tem um significado especial para uma pessoa ou grupo. Profano é tudo que não é sagrado, toda a vida comum do dia a dia, os fatos e atos da rotina. Contudo, a diferença entre profano e sagrado só acontece na experiência individual e dos grupos, ou seja, aquilo que é profano ou comum para uns, pode ser sagrado para outros, dependendo de sua experiência religiosa. Enquanto para uns a pedra é uma pedra, para outros ela é objeto de culto, assim como um lugar para uns é comum ou profano, para outros é sagrado. 

Convidado para assistir, fui eu e Lucinha, minha companheira de vida e de infortúnios ao Teatro Municipal de Uberlândia no último dia 16/07(domingo) para assistir o espetáculo: “Qual o Seu Nome”, protagonizado e de narrativa composta pela dançarina, atriz, capoeirista e herdeira de axé Juliana Yafemí, natural de Araguari e radicada em Natal/RN, de família tradicional preta de nossa cidade(sobrinha neta da ilustre Rainha de Congado Benedita Gonçalves que da nome ao Centro de Referência da Cultura Negra). O espetáculo com direção de @verapassosdancando, trilha sonora original e execução de @morenoveloso (filho primogênito de Caetano Veloso) e participação dos músicos @_amanda.perc e @kayami.satomi

Estou ainda extasiado, diante da contemplação de um espetáculo que apesar de, dentro do contexto minimalista me transpôs de forma maximizada para dentro de um dos maiores terreiros de candomblé da Bahia ou de qualquer outro lugar do planeta. De uma forma leve, incauta, sem perder o toque suave do sagrado manifestado pelos aguidavis, o toque iniciado pelo “adabi”, seguido por um “adarrum” e a partir daí a manifestação dançada numa mistura afro-contemporâneo de todas as “iabás” guiadas no palco pelo som da percussão perfeita, acompanhada por um violoncelo e um contrabaixo, a verdadeira mistura do profano(claro na visão de uns) e o sagrado. A sonoplastia perfeita, englobou um conjunto de  sons ambientes e ruídos que foram desde o som de chuva até o som de folhas de árvores farfalhando, que transportavam os assistentes a vários ambientes num misto de euforia e paz e só não se sobrepõe porque a dançarina é Juliana Yafemí.

Em tempos de intolerância principalmente religiosa, onde as pessoas tem dificuldades de sentir empatia e respeito pela opção do outro, foi gratificante sair do conforto do meu lar para assistir o espetáculo. O suceder de cenas trouxe vários elementos em cena, como: água, fogo, terra, ar e a luz do éter; a projeção de imagens no figurino da artista e tudo mesclado pela declamação de textos além é claro a leveza da dança ora dos orixás, ora contemporâneo e balé nos fazendo refletir sobre nossas escolhas pessoais  e até nossas iniciações individuais e o quanto isso interfere no meio social que convivemos.

Ganhei o domingo. Axé-ooo.

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